22 setembro 2005

somos exterior essencialmente

somos exterior essencialmente

Quando digo «é evidente», quero acaso dizer «só eu é que o vejo»?
Quando digo «é verdade», quero acaso dizer «é minha opinião»?
Quando digo «ali está», quero acaso dizer «não está ali»?
E se isto é assim na vida, porque será diferente na filosofia?
Vivemos antes de filosofar, existimos antes de o sabermos,
E o primeiro facto merece ao menos a precedência e o culto.
Sim, antes de sermos interior somos exterior.
Por isso somos exterior essencialmente.

Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos

O centro de todas as questões que atravessa todos os tempos, todas as culturas e identidades é o próprio eu físico.
Todos têm um corpo, mutilado ou não, todos os seres têm na sua exterioridade uma forma de expressar uma imagem interior e de captar e interpretar o mundo exterior.
As interpretações sobre o corpo variam, os rituais do corpo mudam, mas o corpo continua, imune às concepções filosóficas...

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá Isabel! Long time no see...

É bom saber que está de volta com novas actualizações e textos interessantes. De facto o tema que aborda já foi por mim discutido imensas vezes com professores meus de diferentes áreas.
Somos de facto «exterior essencialmente» num plano mais físico, mais real. E neste momento? Ao escrever a mensagem, ao comunicarmos pelas caixas de comentários? Até que ponto deixamos de ser exterior? Seremos interior essencialmente?

São questões que me deixam bastante curioso uma vez que a este plano virtual temos essencialmente no nosso interior uma forma de tentar expressar a nossa imagem exterior! Concordas comigo? :)

Os meus cumprimentos e é bom tê-la de volta ao cinekultura! *

3:16 da tarde  
Blogger ISABEL Mar said...

É verdade André, a internet revolucionou a ideia de interior e de exterior. Claro que a forma como comunicamos por internet parece dar a ideia de interioridade, mas será que é mesmo assim? Eu tenho muitas dúvidas... O exterior é parte sensorial, aquela que é percepcionada pelos sentidos? Eu inclino-me mais para a ideia de que o exterior é a "máscara" com que expressamos o interior e sendo assim a internet não é "interior" a internet não elimina a nossa exterioridade, apenas se refere a um aspecto diferente. O interior parece-me algo muito mais complexo do que aquilo que fica quando eliminamos todo o exterior. Ou seja, o interior parece-me maior do que a soma do interior mais exterior. É o tipo de paradoxo apenas verdadeiro quando um dos elementos é infinito (por exemplo, a soma do conjunto dos números naturais é igual a cada uma das suas partes (conjunto dos números ímpares ou dos números pares)
"eu" sou o meu corpo, exterior, físico e limitado, e o meu interior, imaterial, ilimitado, infinito. Um e outro condicionam-se reciprocamente.

12:49 da manhã  
Blogger ISABEL Mar said...

André
Percebi a dúvida entre tratamento por "tu" e por "você". Eu resolvo isso: podemo-nos tratar por tu. É uma das vantagens da internet: a aparente proximidade. Diz-me o que pensas sobre a minha ideia de interior e exterior, por favor.
Obrigada pelas boas-vindas!
Isabel

12:52 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

É uma dicotomia complicada. A questão da internet alterou por completo o panorama das comunicações actuais. Isso reflecte-se no modo como nos exprimimos e até mesmo na linguagem escrita e oral que aprendemos na Internet (chats, blogs, e-mails, etc...) e as transportamos e adaptamos para a nossa vida real.
Talvez não me tenha explicado muito bem. Isto claro que é muito mais complexo mas aqui vai a minha tentativa de a simplificar ao máximo para que percebas a minha questão.
Na vida real, a primeira coisa que uma pessoa capta de outra que não conhece é o seu físico, o seu exterior, a tal "máscara" que referiste e muito bem. Depois do olhar existe o primeiro contacto verbal, depois o desenvolvimento da conversa e só depois começamos a entrar no plano interior da pessoa. A conhecer os seus gostos, a sua maneira de ser, de pensar de agir etc.
Na internet vejo isso de uma outra forma. Nos chats por exemplo, uma pessoa começa a falar normalmente com uma outra e entra logo na parte interior. Conhece os seus gostos, até consegue ouvir a sua voz através de micro no MSN, e o seu aspecto físico é das últimas coisas a conhecer (a não ser que se marque encontros para conhecer determinada pessoa que já se tem uma "relação" pela internet). Claro que as coisas não são simples assim, nem poderiam ser, mas eu penso que desta forma tornei a minha ideia mais clara não? :)
Os blogs são um belo exemplo disso também. Aliás já comecei a "ler-te" quando tinhas um blog no servidor da sapo, explorei o teu profile e vi os teus interesses, ocupação etc, e só à pouco tempo é que vi pela primeira vez uma fotografia tua.
Claro que isto ainda dava "pano para mangas" mas fica a saber que esta questão era uma das muitas que gostaria de abordar este ano numa monografia de final de curso que terei que desenvolver!
Os meus cumprimentos :)

É verdade, tratar por tu facilita bem mais as coisas! *

2:09 da manhã  

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