17 agosto 2005

sonho e crítica

sonho e crítica


Leio momento a Interpretação dos Sonhos de Freud. O que é que isto tem a ver com cinema? Na minha opinião: Tudo!

«A adoção da atitude de espírito necessária perante ideias que parecem surgir “por livre e espontânea vontade”, bem como o abandono da função crítica que normalmente actua contra elas parecem ser difíceis de conseguir para algumas pessoas. Os “pensamentos involuntários” estão aptos a libertar uma resistência muito violenta, que procura impedir o seu surgimento. A confiar no grande poeta e filósofo Friedrich Schiller, contudo, a criação poética deve exigir uma atitude exatamente semelhante. Num trecho da sua correspondência com Körner, Schiller responde à queixa que lhe faz o amigo a respeito da produtividade insuficiente: “O fundamento de sua queixa parece-me residir na restrição imposta por sua razão a sua imaginação. ...Parece prejudicial para o trabalho criativo da mente que a Razão proceda a um exame muito rigoroso das ideias à medida que elas vão brotando - na própria entrada, por assim dizer. ...A Razão não pode formar qualquer opinião sobre tudo isso, a menos que retenha o pensamento por tempo suficiente para examiná-lo em conjunto com os outros. Por outro lado, onde existe uma mente criativa, a Razão - ao que me parece - relaxa sua vigilância sobre os portais, e as idéias entram precipitadamente, e só então ela as inspeciona e examina como um grupo. - Vocês, críticos, ou como quer que se denominem, ficam envergonhados ou assustados com as mentes verdadeiramente criativas, e cuja duração maior ou menor distingue o artista pensante do sonhador. Vocês se queixam de sua improdutividade porque rejeitam cedo demais e discriminam com excessivo rigor.”»
Freud, Interpretação dos Sonhos
Foto: Bosch - detalhe de O Jardim das Delícias (bem contemporâneo, não?)

04 agosto 2005

imagem e duplo

imagem e duplo



Nos últimos tempos, tenho-me dedicado ao estudo dos elementos da imagem criadores de magia, melhor dizendo, faço uma recolha de leituras e de conhecimentos de todos os textos que me ajudem a descodificar a magia provocada pelas imagens, esse poder imenso que é despertado por algumas imagens, sons, ambientes...
Decidi transcrever algumas palavras de Edgar Morin:

«...la imagen puede presentar todos los caracteres de la vida real ...Además, la imagen objectiva puede poseer una cualidad de vida que no roconoce el original. … Por consiguinte, puede efectuarse cierta sobrevaloración subjectiva a partir de la simple representación objectiva ... Un mismo movimiento aumenta correlativamente el valor subjectivo y la verdad objectiva de la imagen hasta una «objectividad-subjectividad» extrema o alucinada … La imagen no es más que un doble, un reflejo, es decir, una ausencia. Sartre decía que «la característica esencial de la imagen mental es una determinada manera que tiene el objecto de estar ausente en el seno mismo de su presencia» ... El doble es efectivamente esta imagen fundamental del hombre, anterior a la conciencia íntima de sí mismo, reconocida en el reflejo o la sombra, proyectada en el sueño, en la alucinación y la representación pintada o esculpida, fetichizada y magnificada en las creencias, en la supervivencia, los cultos y las religiones.
MORIN, Edgar, El cine o el hombre imaginario, Barcelona, Ediciones Paidós, 2001
(Foto: Narciso de Boticcelli)