26 junho 2005

espelhos da realidade

espelhos da realidade

Posted by Hello
"Broken Mirror", de Pistoletto. Fui buscar esta fotografia aqui.
Baudrillard diz a certa altura no seu livro Simulacres et Simulations que hoje em dia, a abstracção é tão grande que a realidade é mais real no seu duplo, no espelho, no conceito. A simulação é a criação através dos modelos de um real sem origem nem realidade: o hiper-real.
Paul Ricoeur no livro De l'Interprétation Essai sur Freud «... le principe qui régit la magie, la technique du mode de pensée animiste, est celui de la toute-puissance des idées.»C’est ici que le désir interfère avec la réalité: la satisfaction quasi hallucinatoire du désir marque le primitif empiètement du désir sur la réalité; désormais le sens vrai de la réalité sera conquis sur cette fausse efficace du désir. RICOEUR, p. 233

25 junho 2005

"Kit has days when everything in the world is merely a sign for something else. A white Mercedes can't just simply be a white Mercedes. It must have a secret meaning about the whole of life. Everything is an omen. Nothing can just be what it is." -citação do filme The Sheltering Sky - Um chá no Deserto.

20 junho 2005


Steven Kline, director do Laboratório de Análise dos Media da Universidade de Vancouver, inventou um aparelho que analisa as reacções fisiológicas humanas a qualquer coisa visionada, especialmente em ecrãs. Concluíu que, mesmo perante imagens fragmentadas que passam a uma velocidade superior à necessária para formar uma opinião, o espectador tem reacções fisiológicas instantâneas. Os ecrãs são hipnóticos e desafiam-nos a responder “como a luz de um interrogatório da polícia de um filme” (nota 1). Marshal MacLuhan salienta o facto de a televisão alterar os sentimentos e sensibilidades do espectador, especialmente quando não lhe prestamos atenção. Sem ter consciência, quando estamos distraídos e os filtros do processo de atenção estão inactivos, absorvemos modelos de comportamento e tipologias de personalidades, criando esterótipos e fazendo juízos de valor. A atenção é a integração do eu cerebral na imaginação, tanto no plano do pensamento como no da acção. Assim, é simples a ligação do indivíduo ao ecrã (muitas vezes, encondendo-se por detrás de um nickname) estabelecendo opiniões simplistas e irreflectidas. O ecrã representa a personalização do amigo que não recrimina, que aceita, que conduz ao mundo onírico onde cada um pode vestir o papel que lhe convém, pode usar a máscara do jovem musculado e a da mulher de corpo deslumbrante. Como qualquer outro bem de consumo, os conteúdos da Internet estão condicionados à lei de mercado, por isso “a liberdade e a soberania do consumidor não passam de mistificação. A mística bem alimentada (e, antes de mais, pelos economistas) da satisfação e da escolha individuais, ponto culminante de uma civilização da «liberdade», constitui a própria ideologia do sistema industrial, justificando a arbitrariedade e todos os danos colectivos: lixo, poluição, desculturação.” (nota 2)

O ecrã da Internet preenche o espaço vazio causado pela frustração da não satisfação dos requisitos da sociedade veloz, competitiva e implacável onde vivemos e onde reina a indiferença de massa. Queremos ser eternamente jovens e produtivos, vivemos a apoteose do consumo na esfera privada e aproveitamos os modelos de vida oferecidos pela Internet, pela televisão e pel ocinema que nos incrementam a feição narcisista e nos obrigam a reciclar os sentimentos, tornando-os sub-produtos prontos a consumir pela subjectividade libidinal. A compaixão, amor, tristeza encontram escape na realidade difundida pelos ecrãs que funcionam como aparelho terapeutico da sensibilidade humana. Identificamo-nos com o desgosto e alegria de personagens e vivemos distraídos dos nossos filhos que, à porta da discoteca, estão indecisos sobre se hão-de ou não experimentar uma nova droga. Vivemos no tempo dos cães mecânicos que imitam em tudo os reais, com a vantagem de não largar pêlo no sofá nem deixar o cheiro de urina no hall de entrada.
O reino hedonista aprisionou-nos num papel social que sobrevaloriza a personalização do Eu, criando o vazio interior e a incapacidade de sentir a perenidade. Vivemos a apologia da climatização dos sentimentos e emoções. Na Net, os sentimentos são recicláveis, o sexo é asséptico, não há a promiscuidade dos corpos nem a troca de fluidos. É a apologia dos corpos sem órgãos de que fala Deleuze e Guattari. A sociedade ocidental caminha numa aproximação vertiginosa para o universo de Cronenberg, para uma sociedade de espelhos, no qual cada ecrã significa a nossa própria imagem. “A imagem especular representa aqui simbolicamente o sentido dos nossos actos, que formam em redor de nós um mundo à nossa imagem.” (Baudrillard, p.202)
“Já houve uma altura em que podíamos acreditar na realidade. Platão e Aristóteles tinham ditado as regras. … Numa altura em que o mundo era real, o objectivo de toda a investigação científica era descrever um universo estável e fiável. … Hoje sabemos que os átomos são pouco fiáveis e somos receptivos a ideias como a de Sroendiger, «as coisas só tendem a ser». A partir de Einstein, Niels Bohr, Heisenberg, Freud e a televisão, a realidade está a desintegrar-se … Se o mundo já foi real, porque é que já não é?” (KERCKOVE, pp.169-170) Se a realidade é aquilo que se pode cheirar, ver, tocar, então a realidade é um conjunto de sinais eléctricos interpretados pelo cérebro. Então ela é o que sentimos diante de um ecrã. Somos também homo videns. Somos o novo tipo de homem referido por Sartori gerado por um “meio criador de um novo anthropos”, que transforma a linguagem conceptual numa linguagem perceptiva e concreta, mais pobre, em que o imediato e o espontâneo é sobre-valorizado. Os termos axiológicos da Idade Clássica mudaram: hoje são as opiniões que substituem a realidade, num mundo em que o princípio da instabilidade é a única certeza. Marshal MacLuhan afirmou que os media são extensões do corpo humano. O computador seria uma prótese do cérebro, agindo respectivamente como olho, o cérebro e a própria pele humanas. Os novos interfaces dos novos media, dotados de ecrãs e interagindo com o indivíduo, recebendo e dando ordens, estão cada vez mais próximos do humano. A Internet, além de funcionar como um cérebro à escala universal, é também um espelho. Num mundo narcisita, só poderíamos passar a maior parte do tempo diante dele.
"O homem que reivindica a sua libertação tem, hoje mais do que outrora, necessidade de aprender a querer. Ora, isso é-lhe difícil porque, submerso pelo enervamento da fadiga nervosa, é incapaz de se dominar. ... Para prevenir e curar a fadiga é necessário aprender a restabelecer o equilíbrio nos centros regualdores da base do cérebro. É necessário tomar contacto com o real." Paul Chauchard, O Cérebro e o Sistema Nervoso
NOTAS:
1- KERCKHOVE, Derrick, A Pele da Cultura, 1ª ed., Lisboa, Relógio D’Água Editores, 1997, p. 41.2- BAUDRILLARD, Jean, A Sociedade de Consumo, ed. 70, Lisboa, 1991, p. 72.

19 junho 2005

buscadores de blogs

buscadores de blogs

Os blogs são um novo tipo de busca de conhecimento, muitas vezes substituíndo-se ao jornalismo. Porque o conhecimento não reside apenas num aglomerado de leituras e conhecimentos adquiridos em biblioteca, mas é consolidado através da reflexão e esta constroi-se no diálogo, é importante encontrar pessoas que connosco partilhem as mesmas ideias e gostos pessoais. Os blogs são sítios priveligiados de partilha de conhecimento e base de formação de comunidades culturais. A interactividade permitida através dos comentários é um instrumento que convida ao diálogo e que pode ter como consequência o establecimento de eixos axiológicos importantes na busca do saber. Por isso, deixo aqui uma lista daqueles que me parecem os mais importantes buscadores de blogs: bloglines, blogsearch engine, o meu diário e technoratti.

16 junho 2005

O top 10 dos cientistas

O top 10 dos cientistas

O filme favorito dos cientistas é o Blade Runner.
Num inquérito realizado pelo "The Guardian" a diversos cientistas, "Blade Runner" e "2001 - Odisseia no Espaço" estão no top 10 dos filmes favoritos de Igor Aleksander, neurocientista computacional; Ross Anderson, professor na área de engenharia em Cambridge; Peter Atkins, químico na Universidade de Oxford; Nicholas Barton, geneticista na Universidade de Edinburgo; Gregory Benford, físico e autor de ficção cinetífica; Mark Brake, cientista; Simon Conway Morris, biólogo na Universidade de Cambridge; David Deutsch, físico de Quântica na Universidade de Oxford e muitos mais.

Os 10 filmes favoritos dos cientistas:

1- Blade Runner, Ridley Scott, 1982
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2 - 2001 - Odisseia no Espaço, Stanley Kubrick, 1968
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3 - Guerra das Estrelas, Georges Lucas, 1977-1980
4 -Alien, Ridley Scott, 1979
5 - Solaris, Andrei Tarkovsky, 1972
6 - Exterminador, James Cameron, 1984
7 - The Day the Earth Stood Still, Robert Wise, 1951
9 - Matrix, Irmãos Wachowski, 1999
10 - Encontros Imediatos do Terceiro Grau, Steven Spielberg, 1977

Um chá no deserto

Um chá no deserto

Posted by Hello
"Because we don't know when we will die, we get to think of life as an inexhaustible well, yet everything happens only a certain number of times, and a very small number, really. How many more times will you remember a certain afternoon of your childhood, some afternoon that's so deeply a part of your being that you can't even conceive of your life without it? Perhaps four or five times more, perhaps not even that. How many more times will you watch the full moon rise? Perhaps twenty. And yet it all seems limitless. " -------- últimas reflexões do narrador de "Um chá no deserto"

Sobre as magníficas paisagens deste belíssimo filme, Daniela Koldobsky escreveu:
"The sheltery sky, (Bertolucci, 1990) tematiza la relación de una pareja a lo largo de un viaje iniciático a través de pequeñas poblaciones del desierto del Sahara. Los frecuentes primeros planos y planos medios que enfocan a los individuos producen un contrapunto con las panorámicas del desierto inmenso, soleado y vacío, sólo surcado por caravanas de camellos que, en los grandes planos, se ven como puntos en el espacio. La música de percusión completa en algunas escenas un clima exótico. Siguiendo a Greimas, el desierto es aquí un actante del relato, si entendemos como tal, a aquél que participa en una esfera de acción. Esto es posible porque el desierto se constituye en espacio elegido por la pareja protagonista para mejorar su relación, y a su vez provoca la muerte por fiebre de uno de ellos. En este film la función del paisaje es nuclear, porque hace avanzar la acción hasta producir la muerte del protagonista y determinar el período de vagancia de su viuda entre los beduinos."

15 junho 2005

Adeus

Adeus

Posted by Hello
"Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus. " EUGÉNIO DE ANDRADE
Choro ao ler este poema. A morte é uma inevitabilidade da vida, mas muito difícil de aceitar...
A minha pequena homenagem a um poeta MAIOR...

14 junho 2005

os amores de Chud

os amores de Chud

Uma lista dos 100 filmes mais amados, segundo a afectividade do seu autor, claro... Na minha lista afectiva, os filmes seriam muito diferentes. Eu sou muito mais exigente no amor. Um dia, publico a minha lista amorosa... de filmes, claro...